BRICS, Brasil e o Novo Xadrez Geopolítico

Enquanto os holofotes se voltam para disputas comerciais e retóricas acaloradas, uma “guerra” silenciosa e muito mais complexa se desenrola no cenário geopolítico global. Não se trata de embates diretos ou sanções isoladas, mas de uma reconfiguração de poder onde o Brasil, ao lado da Rússia e de outros países emergentes, assume um papel central no bloco BRICS, desafiando a hegemonia tradicional dos Estados Unidos e seus aliados
ocidentais. Esta dinâmica, embora distante dos campos de batalha, ecoa tensões semelhantes às que vemos no conflito entre Ucrânia e Rússia, impulsionado, em parte, pela expansão da OTAN.

BRICS BRASIL

O BRICS: Uma Nova Ordem Mundial em Construção

O BRICS, acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, surgiu como um agrupamento de economias emergentes com o objetivo de fortalecer a cooperação econômica, política e social entre seus membros e promover uma governança global mais inclusiva e multipolar. Longe de ser apenas um bloco econômico, o BRICS busca coordenar posições em fóruns internacionais, reformar instituições financeiras globais e, em última instância, redefinir o equilíbrio de poder no mundo.

A recente expansão do BRICS, com a inclusão de novos membros como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia, demonstra a crescente atratividade influência do bloco. Essa ampliação não apenas aumenta o peso econômico demográfico do grupo, mas também sinaliza um desejo de muitos países do Sul Global de buscar alternativas às estruturas de poder existentes, dominadas por nações ocidentais.

Brasil e Rússia: Uma Aliança Estratégica no Coração do BRICS

A relação entre Brasil e Rússia dentro do BRICS é um ponto de particular atenção para os Estados Unidos. Ambos os países, com vastos territórios, recursos naturais e ambições geopolíticas, têm intensificado seus laços em diversas frentes, incluindo comércio, defesa, tecnologia e diplomacia. A cooperação energética, por exemplo, tem sido um destaque, com o Brasil buscando avançar em áreas como reatores nucleares com a Rússia.

Essa aproximação, vista por alguns como uma ameaça à influência americana na América Latina, é parte de uma estratégia brasileira de política externa que busca o “multi alinhamento”, ou seja, a diversificação de parcerias sem se prender a um único polo de poder. Para os EUA, no entanto, a aliança Brasil-Rússia no BRICS pode ser interpretada como um movimento de distanciamento e um desafio à sua liderança global.

O Medo de Trump e a “Anti-América” do BRICS

Donald Trump, em particular, tem demonstrado uma preocupação explícita com o avanço do BRICS. Suas ameaças de impor tarifas adicionais de 10% a países que se alinham com as “políticas anti-americanas” do bloco revelam a percepção de que o BRICS representa um desafio direto à ordem internacional liderada pelos EUA. Para Trump, a tentativa do BRICS de criar alternativas ao dólar e de fortalecer suas próprias instituições financeiras é vista como um movimento para “destruir o dólar” e minar a supremacia econômica americana.

Essa retórica agressiva e as ameaças tarifárias são uma tentativa de conter a ascensão do BRICS e de manter a influência americana sobre seus parceiros comerciais. No entanto, essa abordagem pode, paradoxalmente, empurrar ainda mais países para a órbita do BRICS, que se apresenta como uma alternativa a um sistema global percebido como injusto ou desequilibrado.

Ucrânia e OTAN: Um Espelho da Tensão Geopolítica

Para entender a profundidade da “guerra” geopolítica em curso, é útil traçar um paralelo com o conflito entre Ucrânia e Rússia e o papel da OTAN. A expansão da OTAN para o leste europeu, vista pela Rússia como uma ameaça direta à sua segurança, foi um dos principais catalisadores da invasão da Ucrânia. A busca da Ucrânia por adesão à OTAN, uma aliança militar liderada pelos EUA, foi interpretada por Moscou como uma linha vermelha que não poderia ser cruzada.

Da mesma forma, a aliança do Brasil com a Rússia no BRICS, e a busca do bloco por uma ordem multipolar, pode ser vista pelos EUA como uma “expansão” de influência russa e chinesa em áreas de interesse americano. Embora não haja tanques ou mísseis envolvidos, a disputa por influência econômica, política e ideológica é real e intensa.

O Novo Xadrez Geopolítico: Brasil como Peça Chave

Nesse complexo tabuleiro de xadrez geopolítico, o Brasil emerge como uma peça chave. Sua posição como uma das maiores economias emergentes, sua vasta riqueza em recursos naturais e sua busca por uma política externa independente o colocam em uma posição estratégica. A presidência do BRICS em 2025 reforça ainda mais o papel do Brasil na construção de uma nova ordem mundial.

O desafio para o Brasil é equilibrar suas relações com os EUA e seus aliados ocidentais, ao mesmo tempo em que fortalece sua parceria com os países do BRICS. Essa “guerra” não é travada com armas, mas com diplomacia, acordos comerciais e a busca por influência global. O futuro da ordem mundial dependerá, em grande parte, de como esses movimentos serão jogados.

A “guerra” geopolítica entre Brasil e EUA, embora não declarada, é uma realidade complexa e multifacetada. A ascensão do BRICS, com o Brasil e a Rússia em posições de destaque, representa um desafio significativo à ordem unipolar liderada pelos EUA. A comparação com o conflito Ucrânia-Rússia serve como um alerta para as tensões que podem surgir quando as linhas vermelhas são cruzadas e as esferas de influência são disputadas. É
fundamental que a diplomacia e o diálogo prevaleçam para evitar escaladas e construir um futuro mais equilibrado e pacífico para todos

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